Lições que podem ser tiradas da audiência pública sobre o trânsito em Cachoeira do Campo, dia 10 de maio

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Por Tino Ansaloni Publicado em 11/05/2012, 20:14 - Atualizado em 14/05/2012, 20:04
Há muito tempo se perdeu o verdadeiro conceito de política, uma ciência bilateral que envolve quem governa e é governado, quem elege e quem é eleito, quem promete e quem cobra as promessas. Vivemos política o tempo todo, mesmo inconscientemente, porque ela existe em toda troca, em todo intercâmbio, em toda relação. Creio que seu verdadeiro significado se perdeu porque eventos a negativaram na história dos povos, principalmente a do povo brasileiro. Quer fazer um teste? Diga para alguém do lado“ vamos falar de política” e verá o que acontece. A maioria das respostas serão negativas, com vulto de desânimo e de aborrecimento. A verdade é que a maioria das pessoas só vinculam política ao ato de votar e de ser votado, o político sendo uma pessoa corrupta, sem escrúpulos, que vive às custas do povo que a elegeu. Mas política é muito mais do que isso. Na audiência pública ocorrida em dez de maio, no distrito de Cachoeira de Campo, para discutirem-se propostas para a melhoria do trânsito na BR 356, com o propósito primeiro de se evitarem mais mortes no trânsito, tivemos uma aula do que é falta de senso político. Em primeiro lugar, as autoridades anunciadas não cumpriram sua parte, deixando de comparecer ao evento. O DER – Departamento de Estradas e Rodagem – apenas enviou uma mensagem dizendo que os problemas da BR 356, que corta as cidades de Itabirito e Ouro Preto, o que inclui alguns de seus distritos, não é da competência daquele órgão. Já o DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura do Trânsito - enviou um recadinho para os poucos presentes na reunião: tentavam resolver os problemas dentro de prazo breve. Deputados convidados não apareceram e nem mesmo o prefeito municipal. Foi uma falta total de respeito para com o cidadão e eleitor desta região tão importante para Minas Gerais e para o Brasil. O DER nos importa, sim, porque somos um fragmento deste país, cortados por BRs e MGs por onde trafegam as riquezas minerais e metalúrgicas do país. O DNIT, por sua vez, faz promessas há anos. Uma das presentes no encontro, a irmã Gisélia, que representa uma escola onde alunos são frequentemente ameaçados de atropelamento, garantiu em seu discurso que há mais de vinte anos ouve promessas de controle e fiscalização do trânsito local, mas até agora, concretamente, só foi a velórios. Em segundo lugar, embora o assunto seja muito sério e envolva todas as comunidades por quais passam a BR 356, apenas algumas pessoas estavam presentes, cerca de cinquenta. Eram elas as mesmas pessoas, ativas, que lutam por causas coletivas, mas completamente desamparadas pelo próprio coletivo. Pode-se perceber que algumas pessoas estavam ali porque perderam entes queridos e viam, na audiência, uma oportunidade para liberar sua dor. Elas não conseguiam entender as regras da burocracia, quando lhes era dito que “a guarda municipal não pode interferir nas esferas de outros tipos de policiamento”. Claro, houve bode expiatório, já que o representante da guarda municipal era interpelado o tempo todo. Todos buscavam um milagre, que, por fim, não ocorreu. Ali deviam estar representantes de todos os distritos atingidos e mesmo os pouco atingidos pelo trânsito, mesmo porque não se sabe que dia e que hora, por coincidência ou não, estarão eles na BR 356, conhecida assassina dos mineiros, e se tornarem vítimas dela. Não havia representação dos distritos e subdistristos, outras vozes da imprensa senão a nossa, a presença tão querida dos eleitores e de seus eleitos. Houve negligência com tema delicado e um individualismo sem precedência - cada um preocupa-se com si mesmo e o coletivo que se dane. A terceira lição deve ser o leitor que deve inferir. Se vivemos imersos em nosso individualismo, se as autoridades não se preocupam mais com quem os elege, se a vida não tem mais valor para quem vive em seu conforto, o que se deve fazer? Certamente, movimentos como o que ocorreu em 21 de abril no mesmo distrito de nada valeram e o próximo também será um fiasco. Deixamos em matéria anterior um documento assinado pelo prefeito de Ouro Preto e representantes da polícia militar e do governo estadual que dizia que em vinte dias, a partir daquela data, algo deveria ser feito em prol da população refém da rodovia. O que foi feito? Nem mesmo a população acreditou nisso porque não exerceu seu direito político e cidadão de ir à audiência para questionar, cobrar, se impor. De fato, precisamos urgentemente de reaprender as artes da política e da cidadania. Não se faz política se se falta uma das partes do processo, qualquer uma das duas. Na audiência, faltaram as duas. Não se é cidadão se se preocupa apenas consigo mesmo. A lei é a dos mosqueteiros: um por todos, todos por um. Que pena... Mas, ainda, merecem nossos parabéns os poucos que estavam presentes, entre moradores e autoridades. Elisabeth Camilo

Um Comentário

  1. Juan 11/05/2012 em 23:19- Responder

    A presença da população foi proporcional a sua divulgação, ou seja, ínfima. Infelizmente não fiquei sabendo, se soubesse, teria ido!
    Fica a dica para a próxima.

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